sexta-feira, 15 de junho de 2012

LPO v2


Text Box:  Text Box: 17Text Box:  Text Box: 18
Língua Portuguesa I

A Linguagem Verbal e a Linguagem Não-Verbal.
TEXTO 1: LÍNGUA E SOCIEDADE
O caráter social de uma língua já parece ter sido fartamente demonstrado. Entendida como um sistema de signos convencionais que faculta aos membros de uma comunidade a possibilidade de comunicação acredita-se,hoje, que seu papel seja cada vez mais importante nas relações humanas,razão pela qual seu estudo já envolve modernos processos científicos de pesquisa, interligados às mais novas ciências e técnicas, como, por exemplo, a própria Cibernética.
Entre sociedade e língua, de fato, não há uma relação de mera casualidade. Desde que nascemos, um mundo de signos linguísticos nos cerca e suas inúmeras possibilidades comunicativas começam a tornar-se reais a partir do momento em que,pela imitação e associação ,começamos a formular nossas mensagens . E toda a nossa vida em sociedade supõe um problema de intercâmbio e comunicação que se realiza fundamentalmente pela língua, o meio mais comum de que dispomos para tal.
Sons, gestos, imagens, diversos e imprevistos, cercam a vida do homem moderno,compondo mensagens de toda ordem (Henri Lefèbre diria poeticamente que “ niágaras de mensagens caem sobre pessoas mais ou menos interessadas e contagiadas ”), transmitidas pelos mais diferentes canais , como a televisão, o cinema, a imprensa, o rádio,o telefone,o telégrafo, os cartazes de propaganda, os desenhos, a música e tantos outros. Em todos, a língua desempenha um papel preponderante, seja em sua forma oral, seja através de seu código substitutivo escrito. E, através dela, o contato com um mundo que nos cerca é permanentemente atualizado.
Nas grandes civilizações, a língua é o suporte de uma dinâmica social, que compromete não só as relações diárias entre os membros da comunidade, como também uma atividade intelectual,que vai desde o fluxo informativo dos meios de comunicação de massa até a vida cultural, científica ou literária.
PRETI, Dino. Sociolinguística: os níveis da fala. São Paulo, Editora Nacional, 1974. P. 7
Língua Portuguesa I

A Linguagem e o Processo de Comunicação
Muitas vezes não damos a devida atenção ao que é tão normal para nós: a nossa volta, a linguagem está presente em todas as suas manifestações o tempo todo,fazendo parte do nosso cotidiano. Para isso,faz-se necessário conceituarmos o que é LINGUAGEM, LÍNGUA, FALA e DISCURSO – vocábulos que iremos usar
com bastante constância em nosso conteúdo: . LINGUAGEM:
É a representação do pensamento humano através de sinais que
garantem a comunicação e a interação entre as pessoas. . LÍNGUA:
É um código formado por palavras e combinações de leis por meio
do qual as pessoas se comunicam entre si. . FALA:
É a ação ou a faculdade de utilização da língua. A oposição língua X
fala separa o social do individual. . DISCURSO:
É a utilização individual da língua. Assim sendo, como a cada um é
dado um modo próprio de se expressar, essa marca própria,recebe o
nome de estilo.
Inúmeras linguagens aparecem nos atos de comunicação. Entre elas fazemos
uso da linguagem verbal (que utiliza a língua oral ou escrita) e a linguagem não-verbal (faz uso de qualquer código que não seja a palavra – sinais, símbolos, cores,
gestos, expressões fisionômicas, sons, etcj.
Podemos citar como exemplo do uso da linguagem verbal uma carta, um out‑
door anunciando grandes promoções de uma loja, um pedido de socorro, um grupo de alunos cantando o Hino Nacional.
Língua Portuguesa I

Já o semáforo, o apito de um guarda, o som da sirena de uma ambulância pedindo passagem e um cartaz com a foto de uma mulher vestida de enfermeira pedindo silêncio apenas com gesto,ao colocar o dedo indicador sobre a boca, são exemplos da linguagem não-verbal.
Comece a perceber o ambiente que o cerca e a “ouvir” os múltiplos sons que
existem a sua volta e você terá numerosos exemplos dessa fantástica “máquina” de sinais convencionais que se chama LINGUAGEM.
Tentamos mostrar-lhe o quanto a comunicação em sociedade é necessária e
Text Box: Leitura Complementar
Aprofunde seus conhecimentos lendo:
TERRA, Ernani. Linguagem, Língua e Fala. São Paulo: Scipione, 1997. 
Text Box: FERRARA, Lucrécia D’Aléssio. Leitura sem palavras. 4 ed. São Paulo: Ática, 2000Text Box:  Text Box: É Hora de Avaliar!Text Box: Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, Text Box: presentes no exercício! Elas irão ajuda-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!Text Box:  Text Box:  Text Box: 19como acontece esse mecanismo. Continuaremos falando nisso nas próximas unidades.

Text Box:  Text Box: 29
Língua Portuguesa I

Os Signos Linguísticos
Ao introduzirmos essa unidade com a definição de signo, queremos ressaltar
que signo é, antes de mais nada, sinal, símbolo e, portanto, refere-se a alguma coisa.
Sempre que tentamos representar a realidade por meio da palavra, estamos falando de signo linguístico.
Veja o verbete tirado do dicionário eletrônico Michaelis – UOL, 2002
sig.no s. m. 1. Astr. Cada uma das doze partes em que se divide o zodíaco e cada uma das constelações respectivas. 2. Linguíst. Tudo aquilo que, sob certos aspectos e em alguma medida, substitui alguma coisa, representando-a para alguém. — S. linguístico: o que designa a combinação de conceito com a imagem acústica, ou seja, a combinação de um significado com um significante. Em bola, por exemplo, a sequência de sons b-o-l-a é o significante, e a ideia do objeto é o significado. S.-de-salomão: emblema místico, símbolo da união do corpo e da alma, que consiste em dois triângulos entrelaçados formando uma estrela de seis pontas; signo salomão. Era usado, outrora, como amuleto contra a febre e outras doenças. S.-salomão: signo-de-salomão.
Conceituamos signo linguístico como a menor unidade dotada de sentido.
Compõe-se de um elemento material,de caráter linear,denominado significante e de conceito, de uma ideia, da imagem psíquica que temos, que é o significado.
A relação significante X significado é convencional, ou seja, há um acordo implícito e explícito entre os usuários da língua.

Text Box:  Text Box: 30
Língua Portuguesa I

Convencionou-se chamar de gato o animal mamífero, doméstico, da classe dos felídeos, por exemplo.. essa relação presente no signo linguístico é também arbitrária,visto que não há qualquer propósito entre a representação gráfica “ g – a – t – o ” e a ideia que temos representada em nossas mentes desse animal.
Também temos o significante “g – a – t – o” com outros significados, como: Ladrão, gatuno, larápio ou em expressões do tipo gato-pingado: cada um dos poucos assistentes de uma reunião ou espetáculo, ou de algum agrupamento e ainda gato e sapato: coisa desprezível.
Sendo assim, signo é a associação de um significante (sons da fala, imagens gráficas, desenhos, etc.) e um significado (conceito, ideia ou imagem mental).
O signo LIVRO se compõe, portanto de:
Devemos ressaltar, ainda,que quando falamos em signo linguístico, referimo-nos a uma representação da realidade através da palavra. Acentuamos que palavra é criação humana, usada para representar algo que temos em mente. A palavra maçã não é a maçã (você não come a palavra maçã); mas ao dizermos ou lermos essa palavra, é claro que nos vem à mente a ideia da maçã (fruto da macieira). Mesmo que o objeto mencionado não esteja na nossa frente, ao evocá-lo, usamos a palavra que o nomeia, a sua imagem surge em nossa mente de maneira instantânea.

Text Box:  Text Box: Língua Portuguesa IText Box: LEITURA COMPLEMENTAR:Text Box: Aprofunde seus conhecimentos lendo:
TERRA, Ernani. Linguagem, língua e fala. São Paulo: Scipione, 1997.
 , Ernani. Cavallete, Floriana Toscano & NICOLA, José. Português para o
Ensino Médio: Língua, Literatura e Produção de Textos. volume único. São Paulo, Scipione, 2002.
Text Box: É HORA DE SE AVALIAR!Text Box: Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, Text Box: presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA) .Interaja conosco!Text Box:  Text Box: 31


 
Text Box:  Língua Portuguesa I



Text Box:  Text Box: 1VANOYE , Francis. Usos da Linguagem – problemas e técnicas na produção oral e escrita. 11 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.Text Box: 38Os elementos da comunicação humana
Para Francis Vanoye1 “toda comunicação tem por objetivo a transmissão de uma mensagem”.
Assim, para que a comunicação aconteça, temos de ter alguém construindo um texto (verbal ou não-verbal) e enviando-o a alguém. Esse material enviado se utilizará de um sistema de sinais e de um meio ou contato para fazer chegar àquilo que se pretenda comunicar.
O ato comunicativo, portanto, sendo um ato social, concretiza várias manifestações, tanto do ponto de vista cultural como no nosso cotidiano. Vale dizer: sempre estamos nos comunicando com alguém através de uma mensagem.
Assim, podemos esquematizar esse processo comunicativo do seguinte modo:
O emissor – ou destinador ou ainda remetente – é o que emite (envia) a mensagem. Essa mensagem pode ser transmitida de forma individual ou em grupo.
O receptor ou destinatário é o que recebe a mensagem.
A mensagem é o que se denomina, ainda segundo Vanoye, “objeto da comunicação”. Constitui-se no conteúdo daquilo que é transmitido.


 
Text Box:  Text Box: 39
Língua Portuguesa I

O canal comunicativo é definido como os meios utilizados pelo emissor a fim
de enviar a mensagem ao receptor.
Uma mensagem, por exemplo,que é transmitida por um órgão de controle de
tráfego – uma placa do tipo “PERMITIDO ESTACIONAR” – se dá através dos meios visuais de que o receptor é portador. O som do apito de um guarda, sinalizando
algo, acontece através do meio sonoro (ondas sonoras, ouvido...).
É através do canal de comunicação que utilizamos que podemos empreender
a classificação das mensagens. Assim, teremos:
A)   As mensagens visuais, cuja base são as imagens (desenhos,fotos) e os símbolos
(a escrita ortográfica).
B)   As mensagens tácteis – um aperto de mão, uma carícia...
C)   As mensagens sonoras: os diversos sons significativos, as palavras faladas, as
músicas etc.
D)  As mensagens gustativas: uma comida, por exemplo, apimentada ou salgada
demais...
E)   As mensagens olfativas: um perfume, um escapamento de gás de cozinha etc.
O código é um conjunto de signos combinados entre si, do qual o emissor se utiliza para elaborar a mensagem. Ao montá-la, o remetente estará operando a codificação; ao recebê-la, o destinatário – identificando o código utilizado – estará procedendo à decodificação.


 
Text Box:  Text Box: 40
Língua Portuguesa I

Os processos de codificação / decodificação se realizam de algumas maneiras, tais como:
a)   O emissor envia uma mensagem. O destinatário a recebe, mas não a compreende, porque não possuem signos em comum.
Como exemplo, poderíamos apontar uma tentativa de diálogo entre um brasileiro e um japonês.
b)    O emissor “tenta” manter um diálogo com um receptor que domina pouco o código utilizado. Neste caso,a comunicação é restrita,pois são poucos os signos em comum.
Um americano, recém-chegado ao Brasil, tentando se comunicar com um estudante que estuda inglês há apenas um ano.


 
Text Box:  Text Box: 41Text Box:  Text Box: 42
Língua Portuguesa I

c)   A comunicação é mais abrangente; embora ainda não total – quando, por exemplo,um professor explica um determinado conteúdo,mas alguns alunos não dominaram ainda o anterior, que, por sua vez, seria pré-requisito do atual.
d)   Finalmente, temos a comunicação total. Todos os signos emitidos pelo emissor são do conhecimento do receptor e a figura assim representará esse caso:
O referente é constituído pelo conteúdo ao qual a mensagem nos remete. Temos o referente situacional e o referente textual. O 1º diz respeito aos elementos da situação e das circunstâncias da transmissão da mensagem. Assim,quando uma professora pede aos alunos que abram o livro na página 80,supõe-se que ela esteja dentro de uma sala de aula e os alunos,além de possuírem o referido livro, saibam sobre o que ela está falando.
Já, o referente textual é constituído pelos elementos do contexto linguístico.
Num conto ou em um romance, por exemplo, todos os referentes são textuais, ou seja, têm como base o texto.
Temos, ainda, dois tipos de comunicação: a comunicação unilateral e a comunicação bilateral. Quando se estabelece de um emissor para o receptor, sem qualquer reciprocidade, chama-se comunicação unilateral. Uma palestra, um anúncio em outdoor ou uma placa de sinalização de trânsito transmitem mensagens sem precisar receber resposta, são bons exemplos.
Já em uma conversa, em um debate em sala de aula, temos a comunicação bilateral, pois o emissor e o receptor “trocam” de papéis.
Muitas vezes, a transmissão da mensagem é prejudicada por algo que denominamos ruído. Não podemos entendê-lo apenas como um problema de ordem sonora. Na verdade, para o processo de comunicação, ruído é tudo aquilo que pode atrapalhar o receptor em receber a mensagem enviada pelo emissor. Podemos estabelecer, por exemplo, que ruído pode ser, entre outros: uma voz muito baixa;o barulho de uma britadeira funcionando perto de um “orelhão”; um defeito no sistema eletrônico de uma televisão; uma linha cruzada durante uma ligação telefônica;uma notícia cujo jornal apresenta uma das pontas rasgadas, não permitindo a leitura em seu todo;uma mancha borrada no papel de uma carta etc.
Como vimos, a comunicação humana está muito além de um simples ato mecânico de estímulo e resposta. Não haverá comunicação de fato se não houver interação entre emissor e receptor;isto é, sempre estamos nos relacionando com o outro ou outros, através da linguagem (verbal ou não-verbal), num processo contínuo.

Text Box:  Text Box: 43
Língua Portuguesa I

A intencionalidade discursiva
A piadinha que se segue constitui uma situação comunicativa entre duas pessoas:
Um amigo encontra o outro na rua: - Onde você está morando, rapaz? - Em Copacabana.
- Em que altura?
- No 7º andar.
Nesse caso, a comunicação entre o emissor e o receptor não tem muito sucesso e é aí que o humor se faz presente; exatamente pelo fato de que os interlocutores não atendem a um princípio básico da comunicação: a intencionalidade dis curs iva – intenções (explícitas ou implícitas) existentes na linguagem dos membros que participam de uma determinada situação comunicativa.
Ao interagir com outra pessoa através da linguagem, temos a “intenção” de modificar o pensamento ou o comportamento de nosso(s) interlocutor(es). O sucesso da comunicação está, portanto, em saber lidar com a intencionalidade. É através dela que o emissor impressiona, persuade, informa, pede, solicita etc. (a)o receptor.
Como vimos nessa unidade, sem comunicação e sem os seus elementos constitutivos, não há como uma pessoa se comunicar com outra. Na unidade IV, veremos como as mensagens funcionam, tendo como foco cada um desses elementos.

Text Box:  Text Box: Língua Portuguesa IText Box: Leitura complementarText Box: Aprofunde seus conhecimentos lendo:
- TERRA, Ernani. Linguagem Língua e Fala. São Paulo: Scipione, 1997.
- VANOYE, Francis. Usos da Linguagem - problemas e técnicas na produção oral e escrita. 11 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
Text Box: É hora de avaliarText Box: Não esqueça de realizar as atividades, presentes no caderno de Text Box: exercício! Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA) . Interaja conosco!Text Box:  Text Box: 44


 
Text Box:  Text Box: 52
Língua Portuguesa I

Quando realizamos um ato de comunicação verbal, devemos selecionar as palavras e depois de organizá-las e combiná-las entre si, temos que adequá-las de acordo com a intenção, com o sentido que queremos dar à mensagem que enviaremos ao receptor.
Por ser o ato de falar algo bastante automático, raramente percebemos que essa organização e adequação das palavras usadas estão ligadas a uma ou mais funções. Sendo assim, ao darmos ênfase a um dos elementos de comunicação, já estudados anteriormente, estaremos priorizando uma das seis funções que a linguagem possui..
Foi o linguista russo Roman Jakobson quem elaborou, em 1969, estudos acerca das funções da linguagem. Para cada um dos elementos da comunicação humana, existe uma função estritamente ligada a cada elemento, como veremos a seguir:

Text Box:  Text Box: 53
Língua Portuguesa I

Função Referencial
Também chamada de função informativa é centrada no referente, isto é, naquilo que se fala. Cabe ao emissor a intenção de transmitir ao seu interlocutor, de modo direto e objetivo,dados estruturados, geralmente, na ordem direta. Essa função está presente em grande parte dos textos dissertativos, técnicos, jornalísticos,em receitas médicas, bulas de remédio, manuais de instrução, avisos institucionais,mapas,gráficos etc. A função referencial é tratada por alguns autores como função denotativa, visto que no texto não há ambiguidades ou duplo sentido.
Alimentação balanceada é aquela que contém nutrientes em quantidade e qualidade adequadas às necessidades de cada um. Estas demandas variam, não apenas de acordo com a idade, mas também em relação ao estilo de vida. Assim como as exigências nutricionais dos filhos pequenos são distintas daquelas de seus pais e avós,uma boa dieta para quem tem hábito de caminhar um pouco, todos os dias, está longe de ser adequada para um jogador de futebol ou um corredor de maratona. Ainda assim, existe um princípio válido para todos: quando se trata de fazer uma refeição balanceada é indispensável a ingestão de quantidade suficiente de alimentos construtores, energéticos e reguladores.
Suplemento “Nestlé faz bem” - parte integrante da revista Galileu nº 156/julho-04
Centrada no emissor da mensagem, exprime a sua atitude em relação ao conteúdo da mensagem e da situação. Nesse caso, o emissor expressa seus sentimentos e emoções,resultando num texto subjetivo (diferente da objetividade da função referencial).
A mensagem é estruturada com algumas marcas gramaticais que merecem
registro:verbos e pronomes em 1ª pessoa, interjeições, adjetivos de valores, sinais de pontuação como as reticências, ponto de exclamação.

Língua Portuguesa I

O exemplo que daremos é o famoso “Soneto da Fidelidade”, escrito por
Vinícius de Moraes. Repare como o uso da 1ª pessoa é uma marca significativa para
acentuar a subjetividade do eu-poético.
SONETO DA FIDELIDADE
De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de que vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor ( que tive ): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure.
MORAES, Vinicius de. Obra Completa e prosa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1998.


 
Text Box:  Text Box: 55
Língua Portuguesa I

Função Conativa ou Apelativa
O destaque está no receptor que, por sua vez, é estimulado pela mensagem. Os textos em que essa função predomina são marcados por verbos no imperativo, por vocativos,por pronomes de tratamento. Outro recurso utilizado pela imprensa para prender o receptor e que caracteriza muito bem a função CONATIVA é a argumentação, em que o emissor procura a adesão do receptor ao seu ponto de vista. Podemos traçar um paralelo entre a intenção do emissor da mensagem e a organização da mesma na função conativa.
Perceba:
INTENÇÃO DO EMISSOR influenciar,envolver,persuadir.
ORGANIZAÇÃO DA MENSAGEMapelo, súplica, ordem, chamamento, argumento.
Numa mensagem publicitária, por exemplo, de um produto para limpeza, o
texto parece falar com a mulher – dona-de-casa – a quem interessa vender o produto.
Já, quando o objetivo é influenciar um jovem a comprar uma mochila, por exemplo,a intenção discursiva é outra e,consequentemente,o texto vai privilegiar palavras do universo dos adolescentes, usando gírias do momento, termos centrados em seu linguajar.

Text Box:  Text Box: 56Text Box:  Text Box: 57
Língua Portuguesa I

Assim, a função conotiva ou apelativa da linguagem é predominantemente
encontrada nos anúncios publicitários,nos discursos políticos,nos horóscopos, nos livros de auto-ajuda, nas preces religiosas etc.
Função Poética
Acontece quando a comunicação dá ênfase à própria mensagem.
Uma das características dessa função é o uso de recursos literários na construção da linguagem. Ao selecionar as palavras para compor um texto,o poeta escolhe as que realçam o sentido que ele quer dar ao seu texto e também a sua sonoridade e o ritmo;privilegiar as figuras de linguagem,os recursos fonológicos,a falta ou o excesso de sinais de pontuação.
Nos textos em que predomina a função poética da linguagem, podemos encontrar, com muita frequência, o sentido conotativo das palavras.
Tem tudo a ver
A poesia
tem tudo a ver
com o sorriso da criança,
o diálogo dos namorados,
as lágrimas diante da morte,
os olhos pedindo pão.
A poesia
– é só abrir os olhos e ver –
tem tudo a ver com tudo.
Elias José. Segredinhos de amor. São Paulo, Moderna, 1991.
Text Box:  Língua Portuguesa I
Função Fática
Text Box:  Esta função se manifesta quando se percebe a preocupação do emissor em manter contato com o receptor, sem deixar com que a comunicação se perca. Centrada no canal,ou contato, como alguns autores preferem,a função fática acontece tanto na comunicação oral, através de sons do tipo “Hum... Hum...”, “Hein?”, “Tá... Tá...”, “Sim... Sei...”; de frases como “Está me ouvindo?”,“Estão me entendendo?” e de marcas sonoras como o famoso “Plim! Plim!” da Rede Globo que chama o
telespectador “distraído” para a retomada de comunicação.
Como na comunicação escrita,encontramos a função fática da linguagem ao empregarmos marcadores linguísticos que se repetem.
Função Metalinguística
Acontece quando a ênfase está no código,isto é,quando o código é o tema da mensagem ou é usado para explicar o próprio código. Sabemos que,na linguagem verbal, o código é a língua; portanto, quando utilizamos a língua para explicar a própria língua, temos a metalinguagem ou seja, a função metalinguística.
Um exemplo bem claro são os dicionários e as gramáticas, pois utilizam palavras para explicar as próprias palavras.
fren.te
s. f. 1. Parte superior do rosto, desde os cabelos até as sobrancelhas.
2.        Parte anterior de qualquer coisa.
3.        Fachada de edifício.
4.        Mil. Vanguarda.
5.        Meteor. Superfície que marca o contato de duas massas de ar convergentes e de temperaturas diferentes.
Língua Portuguesa I

Text Box:  Text Box: Leitura complementar:
Aprofunde seus conhecimentos lendo:
CHALHUB, Samira. Funções da Linguagem. Coleção Princípios. São Paulo: Ática, 2000.
VALENTE,André Crim. A linguagem nossa de cada dia. Petrópolis: Vozes, 1997.
Text Box: Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!Text Box: É hora de se avaliar!Text Box: 58Como vimos, para cada um dos elementos do processo de comunicação humana temos uma função da linguagem predominante. Podemos ter essas funções em qualquer tipo de manifestação comunicativa. Por exemplo, em uma obra de arte, em um filme...Mais tarde voltaremos a falar sobre elas.. Na próxima unidade discutiremos sobre as diversidades do uso da língua. Vamos lá?

Text Box:  Text Box: 68Text Box:  Text Box: 69Text Box:  Text Box: 70
Língua Portuguesa I

As Diversidades do uso da Língua - Os Níveis da Linguagem
TEXTO 1:
“Uma das características mais evidentes das línguas é sua variedade. Entende-se por isso, fundamentalmente, que as línguas apresentam formas variáveis em determinada época, o que significa que não são faladas uniformemente por todos os falantes de uma sociedade. (....) Esta característica não é exclusiva das língua modernas. O latim e o grego antigo também tinham formas variáveis. O português, por exemplo, descende do chamado latim vulgar (popular), diferente em vários aspectos do latim dos escritores que chegou até nós. (...).
Uma outra característica das línguas é que as diferenças que apresentam decorrem do fato de que os falantes de uma comunidade linguística não são considerados iguais pela própria sociedade. As diferenças de linguagem são uma espécie de distintivo ou emblema dos grupos, e, nesse sentido, colaboram para construir sua identidade. (...) As variedades (ou os dialetos) correspondem em grande parte a grupos sociais relativamente definidos: os que residem numa região ou em outra; os que pertencem a uma classe social ou a outra; os que são mais jovens ou mais velhos; os que são homens ou são mulheres; os que têm uma profissão ou outra etc.“
ABAURRE, M. B. M. e POSSENTI, S. Vestibular Unicamp: Língua Portuguesa.
Apenas prestando atenção,percebemos intuitivamente que uma língua não é falada do mesmo modo por todos os seus falantes. Em particular, veremos o caso da língua portuguesa, falada em Portugal, no Brasil, em Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe; em regiões asiáticas como Macau, Goa, Damão e Dio e em Timor Leste, na Oceania.
Além do fator geográfico, temos também a variação de ordem social do falante, a situação em que ele deve falar ou escrever, etc.
Língua Portuguesa I

Sendo assim, podemos dizer que uma língua sofre variações de acordo com cinco eixos, criados pelo linguista romeno Eugenio Coseriu, que são:
1° EIXO: a modalidade escrita e falada
2° EIXO: as variantes socioculturais – a norma culta e a norma coloquial
3° EIXO: as variantes regionais.
4° EIXO: as variantes de época.
5° EIXO: as variantes de estilo.
Não podemos esquecer de que, enquanto a linguagem em si mesma é um fenômeno universalmente igual para todos, a língua se manifesta de maneira diferente entre os falantes de uma mesma comunidade linguística,quer por fatores de ordem interna como externa.
As Diversidades do uso da Língua - Os Níveis da Linguagem
As línguas, portanto,manifestam a mesma capacidade humana de expressão, mas há, por exemplo,maneiras típicas de falar relacionadas às regiões de um país – principalmente o nosso, com essa dimensão continental –, às faixas etárias, aos grupos e classes sociais,às situações em que nos encontramos,ao estilo individual e até mesmo ao sexo, visto que, em algumas situações, há palavras que contemplam mais o sexo masculino que o feminino.
Para tanto, existem as normas linguísticas. Algumas são mais livres e
espontâneas;outras mais rígidas, com “sanções” formais àqueles que infringem a norma culta ou formal.
O gramático Adriano da Gama Kury (In:Novas lições de análise sintática. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1985.) tem uma frase que sintetiza todas essas variações de uma língua dinâmica e potencialmente rica: “O bom falante é um poliglota em sua própria língua”.
Língua Portuguesa I

Vamos, então, analisar um a um os cinco eixos dessas variantes linguísticas:
1º EIXO: A MODALIDADE ESCRITA E FALADA:
As diferenças entre o código escrito e o falado não podem ser ignoradas, visto que,ao contrário da modalidade escrita, a falada tem uma característica marcante que se fundamenta na profunda vinculação às situações em que é usada. Normalmente,o contato entre os interlocutores é direto e, ao conversarem sobre um determinado assunto,esses interlocutores elaboram mensagens marcadas por fatos da língua falada. O vocabulário utilizado é fortemente alusivo, pois usamos pronomes como eu, você, isso e advérbios como aqui, agora, cá, lá etc.
O código oral também conta com elementos expressivos que o código escrito
não contempla. Nesse caso,aparece a entonação,capaz de modificar totalmente o significado de certas frases.
Sabemos que nem todas as sociedades do mundo têm domínio sobre a modalidade escrita,mas todas as sociedades humanas fazem uso da modalidade oral. A essas sociedades – como muitas das comunidades indígenas do Brasil – damos o nome de sociedades ágrafas.
Já nas sociedades ditas letradas, podemos classificar a linguagem em três
categorias, que veremos mais adiante: temos a linguagem coloquial, a norma culta ou padrão e a linguagem literária.
Mas, antes da classificação citada, vamos analisar, no quadro que se segue – tirado de MESQUITA, Melo Roberto. Gramática da língua portuguesa. 8ª ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 1999 – as diferenças entre a língua falada e a língua escrita:

Text Box:  Text Box: 71
Língua Portuguesa I

1 BORBA, Francisco da Silva. Introdução aos Estudos Linguísticos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1975.p.262.
As Diversidades do uso da Língua - Os Níveis da Linguagem
2º EIXO: AS VARIANTES SOCIOCULTURAIS – A NORMA CULTA E A NORMA COLOQUIAL.
Quanto à variação da linguagem (quer falada, quer escrita), deparamo-nos com alguns registros que merecem a nossa atenção:

Text Box:  Text Box: 72
Língua Portuguesa I

1-LINGUAGEM COLOQUIAL OU NORMA POPULAR:
É a linguagem que empregamos em nosso cotidiano, em determinadas situações que não exigem formalidade, com interlocutores que consideramos “iguais” a nós no que diz respeito ao domínio da língua. Nesse tipo de linguagem, não temos preocupação em falar “certo” ou “errado”,já que não somos obrigados a usar regras e o nosso objetivo é a transmissão da informação, dando prioridade à expressividade.
2. NORMA CULTA OU NORMA PADRÃO:
Leia o que nos fala Magda Soares, em Linguagem e escola: uma perspectiva social. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1986.
“Dialeto padrão: também chamado norma padrão culta, ou simplesmente norma culta, é o dialeto a que se atribui, em determinado contexto social, maior prestígio; é considerado o modelo – daí a designação de padrão, de norma – segundo o qual se avaliam os demais dialetos. É o dialeto falado pelas classes sociais privilegiadas, particularmente em situações de maior formalidade, usado nos meios de comunicação de massa (jornais, revistas, noticiários de televisão etc.), ensinado na escola, e codificado nas gramáticas escolares (por isso, é corrente a falsa ideia de que só o dialeto padrão pode ter uma gramática, quando qualquer variedade linguística pode ter a sua). É ainda, fundamentalmente, o dialeto usado quando se escreve (há, naturalmente, diferenças formais que decorrem das condições específicas de produção da língua escrita, por exemplo, de sua descontextualização). Efetuadas diferenças de pronúncia e pequenas diferenças de vocabulário, o dialeto padrão sobrepõe-se aos dialetos regionais, e é o mesmo, em toda a extensão do país”.

Língua Portuguesa I

3- A GÍRIA:
Segundo William Cereja (In: Gramática reflexiva: texto, semântica e interação.
São Paulo: Atual, 1999. p. 11), “a gíria é um dos dialetos de uma língua. Quase
sempre criada por um grupo social,como o dos fãs de ‘rap’, de ‘heavy metal’, o dos
Text Box:  que praticam certas lutas, como capoeira, jiu-jitsu etc. Quando ligada a profissões,a gíria é chamada de jargão. É o caso do jargão dos jornalistas, dos médicos, dos dentistas e de outras profissões”.
Temos a gíria como uma contribuição da definição da identidade de um grupo que a utiliza, às vezes, com caráter contestador, como a dos jovens de uma determinada geração funcionando como uma espécie de meio de exclusão dos indivíduos externos ao grupo. Algumas funcionam como transgressoras dos padrões sociais vigentes e,por consequência da própria língua. Para ilustrar,leia o texto que
se segue:
TRUS MOSTRAM VITALIDADE DA GÍRIA EM SP
Termo derivado de truta (amigo, companheiro), é usual nas rodinhas de estudantes.
Ficar na porta de uma escola paulistana na hora da saída de aula pode ser uma experiência única. Para quem não faz parte da turma, compreender o que se diz é tarefa pra lá de difícil. Meninos e meninas, com idade entre 13 e 17 anos, não economizam em gírias das mais variadas e engraçadas, num código indecifrável:
E aí, tru?! Belê?
Sussu
-Vô na minha goma. Ta na fita?
- Se pá eu vou lá
- Cola lá. Falou?

Text Box:  Text Box: 74Text Box:  Text Box: 75
Língua Portuguesa I

Trata-se do diálogo entre amigos. Um convida o outro para ir à sua casa. O que
foi convidado diz que talvez vá, mas não tem certeza. O outro reafirma o convite e despede-se.
As gírias paulistanas,que nem sempre pegam ou viram mania nacional como as do Rio, onde recentemente nasceram sangue bom, sarado e o ah! Eu tô maluco! , originam-se, segundo os jovens da capital, nos bailes funk e escolas e entre praticantes de skate e de surfe.
Depois de criadas,elas podem ser ouvidas nas conversas de jovens de todas as regiões da cidade. Além das já imortalizadas mina e ô, meu , são incontáveis as expressões inventadas pela moçada. “Não sei explicar, mas minha goma é o mesmo que minha casa”, diz Jonas Spindell, de 16 anos, estudante do Colégio Equipe, em Pinheiros, zona oeste.
Só para falar – Escrever o que se diz é uma dificuldade. “Acho que sussu se
escreve assim, com dois esses”, arrisca Pedro Fiorino Barros, de 15 anos. “A gíria é para ser dita e não escrita”, define Spindell.
Muitas vezes, elas têm dois ou mais significados ou são criadas a partir de outras. Tru, por exemplo, vem de truta, que significa companheiro, amigo. Nos últimos meses, os garotos têm pontuado suas frases com o tá ligado? Usam a expressão no fim das frases para reafirmar uma ideia. “Tipo assim é outra coisa que a gente fala muito”, diz Gabriela Gehrke, de 15 anos.
Colega de classe de Gabriela, Soraia Barbosa Cardoso, de 15 anos, é nova na
escola, mas já ganhou um novo repertório de palavras. “No outro colégio não se falava tanta gíria”, diz. “É uma coisa que, quando a gente vê, já está falando.”
Há divergências na hora de empregar as palavras. Os meninos não saem mais para azarar, mas para catar umas minas.
“Acho muito feio dizer isso”,diz Luísa Werneck, de 17 anos. Sua colega Renata
Lins Alves, de 15 anos, não se intimida em adaptar a expressão: “As meninas podem dizer que vão catar uns manos.”
Língua Portuguesa I

Procedê ” – Na escola Estadual Padre Manuel da Nóbrega, na Casa Verde, zona norte, são as meninas que mais usam termos esquisitos, “Quando um cara está interessado, mas não quero nada, digo: Ih! Parei com as drogas ”, diz Gabriela Novaes do Amaral, de 15 anos.
Surfar é o mesmo que transar , trocar um procedê é quando o cara quer ficar com uma menina”, ensina Jaqueline de Oliveira Santos, de 14 anos. “Pá e tal, derrepentemente também serve para dizer que a pessoa está a fim de ficar”, completa Diana Chaves da Silva de 15.
FONTOURA, Cláudia. O Estado de S. Paulo, 5 out. 1997.
As Diversidades do uso da Língua - Os Níveis da Linguagem
4- A LINGUAGEM DA INTERNET: a natureza interativa da internet, ao contrário da televisão, tenta estimular o intercâmbio entre as pessoas, como interlocutores das famosas “salas de bate-papos”. É bom ressaltar, entretanto, que a língua escrita, na rede, assume uma forma peculiar, para a qual foi criado um código misto, que faz uso de sinais capazes de expressar alegria, tristeza, choro, dúvida, decepção etc.
Também lançam mão de abreviaturas, de início de palavras, de apenas uma letra para significar muitas palavras e até frases. É bom lembrar, porém, que essa linguagem serve apenas para incrementar a agilidade da conversação, mas nunca para responder a questionário, enviar currículo, mandar mensagens de caráter formal etc.
3º EIXO: VARIANTES REGIONAIS.
Também chamadas de variação geográfica ou dialetos, esse tipo de variante, no Brasil, é bastante grande e facilmente notada. Caracteriza-se pela diferenciação do acento linguístico – conjunto das qualidades fisiológicas do som no que tange à altura,ao timbre, à intensidade – e por isso é um tipo de variante cujas marcas se notam basicamente na pronúncia.

Língua Portuguesa I

Também percebemos essa variação geográfica no vocabulário, em certas
frases estruturadas de modo diferente e no sentido que algumas palavras assumem em diversas regiões do país.
Também chamadas de dialetos, essas variantes regionais podem ser bem distintas, quer no falar nordestino, pela abertura das vogais pré-tônicas; quer na pronúncia dos gaúchos,que se caracteriza por uma entonação particular; quer na maneira peculiar do carioca pronunciar o fonema “s” final das palavras (normalmente, de modo chiado).
Ainda, chamamos atenção para as variações geográficas encontradas no
vocabulário. Basta percebermos o uso de expressões encontradas nas diferentes regiões geográficas brasileiras, com toda a sua peculiaridade e distinção.
Da mesma maneira, as regiões urbanas e rurais possuem vocabulário e
pronúncias diferentes,além das expressões típicas que encontramos em cada uma dessas localidades.
4º EIXO: AS VARIANTES DE ÉPOCA.
Sabemos que as línguas não são fixas, estáticas. Esse caráter dinâmico, mutável é que nos apresenta palavras cujo uso está defasado, perderam o seu sentido original, deram lugar a outras palavras; enfim, houve uma mudança significativa que é registrada pelos livros escritos no início do século XVIII, em contrapartida com os de hoje, por exemplo.
Para ilustrar esse tipo de variante, leia os trechos de dois textos de Carlos
Drummond de Andrade,que mostram como a língua vai mudando com o tempo:

Text Box:  Língua Portuguesa I



Text Box:  Text Box: ANDRADE, Carlos Drummmond de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988.Text Box: 77TEXTO 1: ANTIGAMENTE
Antigamente, as moças chamam-se mademoiselles e eram todas mimosas e prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geram dezoito. Os janotas,mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. (...) Os mais idosos, depois da janta, faziam o quilo,saindo para tomar a fresca; e também tomavam cautela de não apanhar sereno. Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo, chupando balas de alteia. Ou sonhavam em andar de aeroplano;os quais,de pouco siso,se metiam em camisas de onze varas, e até em calças pardas; não admira que dessem com os burros n’água.
ANDRADE, Carlos Drummmond de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988.
TEXTO 2: ENTRE-PALAVRAS
Entre coisas e palavras – principalmente entre palavras – circulamos. A maioria
delas não figura nos dicionários de há trinta anos,ou figura com outras acepções. A
todo momento impõe-se tomar conhecimento de novas palavras e combinações.
O malote, o cassete, o spray, o fuscão, o copião, a Vemaguet, a chacrete, o
linóleo,o nylon,o nycron,o ditafone,a informática, a dublagem, o sinteco, o telex .... existiam em 1940?
Estão reclamando, porque não citei a conotação, o conglomerado, a
diagramação, o ideograma, o idioleto, o ICM, a IBM, o falou, as operações triangulares, o zoom e a guitarra elétrica.
Não havia nada disso no jornal do tempo de Venceslau Brás, ou mesmo, de Washington Luís. Algumas dessas coisas começam a aparecer sob Getúlio Vargas. Hoje estão ali na esquina, para consumo geral. A enumeração caótica não é uma invenção crítica de Leo Spitzer. Está aí, na vida de todos os dias. Entre palavras circulamos, vivemos, morremos, e palavras somos, finalmente, mas com que significado?

Língua Portuguesa I

5º EIXO: AS VARIANTES DE ESTILO
Entendemos,aqui, as variações nos enunciados linguísticos que se relacionam aos diferentes graus de formalidade do contexto de interlocução. Podemos explicá-las,partindo do princípio de maior ou menor conhecimento e proximidade entre os falantes. Em um dos pólos, tomando-o como eixo contínuo de formalidade, temos as situações informais em que se manifesta a linguagem. No outro extremo desse mesmo eixo temático, encontramos as situações formais de uso da linguagem (por exemplo, as escolhas linguísticas caracterizando um discurso feito em um Congresso).
Também podemos lembrar que as variações de estilo podem ocorrer em relação aos escritores e poetas da nossa literatura. Mesmo sendo representantes de um mesmo momento literário, encontramos autores com estilos bastante diferentes. Como exemplo, podemos citar Manuel Bandeira e Mário de Andrade.
Podemos perceber, no decorrer dessa unidade,que,como todo bom falanteda
língua, devemos saber adequá-las às situações. Na unidade que se segue, falaremos dos mecanismos de combinação e seleção da língua. Vamos lá?

Text Box:  Text Box: 90Text Box:  Text Box: 91
Língua Portuguesa I

Os Mecanismos de Combinação e Seleção
Como você já deve ter percebido, escrever não é só colocar ideias no papel. Até porque essas ideias não surgem do nada. Elas fazem parte do processo de comunicação de que participamos e de todas as informações que nos chegam, através de troca de experiências com seus interlocutores e muita, muita leitura.
Veja a manchete de um jornal de grande circulação nacional que publicou o seguinte:
Professoras mandam carta a deputados protestando contra o aumento de seus salários.
Repare que,da forma como a manchete foi redigida, o leitor poderia entendê-la de dois modos diversos:as professoras, chateadas com o aumento insignificante de seus salários, reclamam, protestando, através de uma carta, aos senhores deputados;ou as professoras questionam o aumento de salário que os deputados tiveram, comparando com o salário delas e escrevem-nos protestando.
Por que essa dupla interpretação aconteceu e acontece quando menos esperamos?
Nesse caso, é o emprego do pronome “seus” o causador desse duplo sentido.
Podemos dizer que o pronome possessivo destacado também pode se referir tanto aos salários das professoras como aos dos deputados.
Sendo o texto uma ‘unidade de sentido’, os elementos que o compõem (palavras, orações, períodos) precisam se relacionar harmonicamente.
A estruturação de uma simples frase pode ser comparada com a articulação de um esqueleto com seus ossos. Do mesmo jeito que uma articulação entre dois ou mais ossos acontece, resultando num movimento, as palavras devem combinar umas com as outras numa articulação de pensamentos, tornando o texto coeso, com nexo. Não se esqueça de que nexo significa “ligação, vínculo”.
Língua Portuguesa I

Esse modo de estruturar o texto, a combinação e seleção das palavras para evitar a falta de nexo, recebem o nome de mecanismos de coesão.
A coesão decorre das relações de sentido que se operam entre os elementos de um texto. Também resulta da perfeita relação de sentido que tem de haver entre as partes de um texto. Assim, o uso de conectivos é de grande importância para que possa haver coesão textual.
Veja o significado da palavra conectivo, tirado do dicionário Michaellis Eletrônico – Michaelis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, 2000.
co.nec.ti.vo adj (lat connect(ere) + ivo) Que liga, ou une. sm 1 Gram. Vocábulo
que estabelece conexão entre palavras ou partes de uma frase. Em português, são conectivos: conjunções, pronomes relativos e preposições (Matoso Câmara Jr.).
Veja o texto que se segue:
“Além de ter liberdade para receber e transmitir informações é preciso que todos sejam livres para manifestar opiniões e críticas sobre o comportamento do governo. Não basta, porém, dizer na Constituição que essas liberdades existem. É preciso que exijam meios concretos ao alcance de todo o povo para a obtenção e divulgação de informações, e por esses meios o povo participe constantemente do governo, que existe para realizar sua vontade, satisfazer suas necessidades e promover a melhoria de suas condições de vida”.
DALLARI, Dalmo de Abreu. In: Viver em sociedade. São Paulo: Moderna, 1985. p. 41.
Atente para o fato de que as orações que formam esse trecho apresentam uma perfeita relação de sentido criada com a ajuda dos conectivos. Vamos analisar um a um os períodos encontrados no texto transcrito acima para entender esses mecanismos relacionais que os conectivos nos dão.
“Além de ter liberdade para receber e transmitir informações é preciso que todos sejam livres para manifestar opiniões e críticas sobre o comportamento do governo”.

Língua Portuguesa I

No 1º segmento,encontramos a locução conjuntiva ‘além de’,que introduz as orações seguintes, ambas subordinadas adverbiais finais; ‘para receber e (para) transmitir’, que por sua vez são coordenadas aditivas entre si, ou seja, têm a mesma função.
Na 2ª oração “Não basta, porém, dizer na Constituição que essas liberdades
existem”, a conjunção destacada indica contradição, oposição ou restrição ao que foi dito na oração anterior.
Já, no último segmento do texto, no trecho sublinhado, encontramos o pronome relativo que retomando o substantivo governo da oração anterior e que aparece como oração principal de três outras orações subordinadas a ela, também com o sentido de finalidade – para realizar sua vontade; (para) satisfazer suas necessidades e (para) promover a melhoria de suas condições de vida.
Veja o trecho agora, por inteiro:
É preciso que existam meios concretos ao alcance de todo o povo para a obtenção e divulgação de informações, e por esses meios o povo participe constantemente do governo, que existe para realizar sua vontade, satisfazer suas necessidades e promover a melhoria de suas condições de vida
Repare que trabalhamos com os conectores (outro nome para os conectivos)
visando à perfeita relação de sentido que deve haver entre as partes que compõem um texto.
Sendo os conectivos elementos que relacionam partes de um discurso, estabelecendo relações de significado entre essas partes, possuem valores próprios, uns exprimindo finalidade, outros, oposição; outros, escolha e assim por diante.
A seleção vocabular é também um importante mecanismo coesivo e a estamos empregando quando substituímos uma palavra que já foi usada por outra que lhe retoma o sentido. Podemos usar sinônimos,pronomes (retos ou oblíquos), pronomes relativos etc.
Língua Portuguesa I

Esse mecanismo seletivo, além de dar coesão ao texto, tem função estilística, pois permite que as palavras não sejam repetidas.
De maneira geral, podemos dizer que temos um texto coerente e coeso quando este não contém contradições, o vocabulário utilizado está adequado, as afirmações são relevantes para o desenvolvimento do tema, os fatos estão corretamente sequenciados; ou seja, o texto deverá estar constituído de relações de sentido entre os vocábulos, expressões e frases e do encadeamento linear das unidades linguísticas no texto.
O inverso é verdadeiro e podemos dizer que não haverá coesão quando, por exemplo,empregarmos conjunções e pronomes de modo inadequado, deixarmos palavras ou até frases inteiras desconectadas e quando a escolha vocabular foi inadequada, levando à ambiguidade, entre outros problemas.
Aconselhamos que,para se perceber a falta de coesão no texto produzido por você, o melhor que se tem a fazer é lê-lo atentamente, estabelecer as relações entre as palavras que o compõem, as orações que formam os períodos e, por fim, os períodos que formam o texto.
Como você pôde notar a coesão e a coerência textuais são elementos facilitadores para a compreensão perfeita de um texto.
Conforme falamos anteriormente, o assunto aqui, ainda diz respeito à coerência textual. Falaremos de como a coerência se manifesta em um texto.
Vejamos a acepção do vocábulo coerência, retirado do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa – Eletrônico/2001.
CO.E.RÊN.CIA
n substantivo feminino.
1.   qualidade, condição ou estado de coerente.
2.   ligação, nexo ou harmonia entre dois fatos ou duas ideias; relação harmônica, conexão.
3.   congruência, harmonia de uma coisa com o fim a que se destina.
4.   uniformidade no proceder, igualdade de ânimo.
Língua Portuguesa I

Como você deve ter percebido, coerência diz respeito a tudo que se harmoniza entre si,que tem ligação. O conceito da palavra se relaciona à presença de conexão, de nexo entre as ideias. Isso porque buscamos sempre a existência de sentido,seja ao refletirmos sobre algo; ao interpretarmos o que nos rodeia; ou ao tentarmos compreender o conteúdo daquilo que nos é apresentado em forma de texto escrito.
Para que possamos exemplificar as acepções do vocábulo, na prática, leia o texto que se segue e que consiste em uma redação de um vestibulando, cujo conteúdo, como veremos ao lê-lo, é truncado e, por vezes, há a necessidade da retomada da leitura para a sua melhor compreensão.
“Felicidade é um viver como aprendiz. É retirar de cada fase da vida uma experiência significativa para o alcance de nossos ideais.
É basear-se na simplicidade do caráter ao executar problemas complexos; ser catarse permanente de doação sincera e espontânea.
A felicidade, onde não existem técnicas científicas para sua obtenção, faz-se de pequenos fragmentos captados de sensíveis expressões vivenciais. Cada dia traz, inserido na sua forma, um momento cujo silêncio sussurra no interior de cada vivente chamando-o para a reflexão de um episódio feliz”.
Vestibular – Universidade Federal de Uberlândia apud KOCH, Ingedore Villaça e TRAVAGLIA,
Luiz Carlos.A coerência textual. São Paulo: Contexto, 2001. p. 36
Assim, podemos inferir que o uso de algumas expressões compromete o entendimento do texto. Como exemplo, citamos “simplicidade do caráter ao executar problemas complexos” e “ ser catarse permanente de doação sincera e espontânea ”. Também, o pronome relativo ‘ onde ' – indicativo de lugar – na oração “A felicidade, onde não existem técnicas científicas para sua obtenção... ” está completamente inadequado. Até a construção inversa da frase, compromete-a.

Text Box:  Text Box: 95Text Box:  Text Box: 96
Língua Portuguesa I

Mesmo tendo uma incoerência, causada pelo mau uso de elementos
linguísticos, conseguimos detectar o tema e o assunto do texto. Portanto, essa incoerência não impede totalmente a sua compreensão.
Sendo assim, a coerência textual é um processo que inclui dois fatores básicos:
1º) o conhecimento que o emissor e o receptor têm do que está sendo tratado no texto;
2º) o conhecimento que têm da língua usada:a tipologia textual, o vocabulário, os recursos da estilística etc.
É claro que o tipo de texto influencia no processo da construção de sentido. Os textos literários e publicitários,por exemplo, manifestam a coerência de um modo diferente da coerência de um texto dissertativo, em que os recursos linguísticos devem facilitar a compreensão do assunto. Um poeta não precisa desses mecanismos da linguagem, pois o sentido de um texto literário não tem o compromisso de contemplar o raciocínio lógico-argumentativo de uma dissertação.
Text Box:  No texto do anúncio publicitário que se segue, retirado da Revista Set, nº 1/1998, há uma incoerência semântica,quando se inverte o sentido dos verbos (‘ler o filme, ver o livro, assistir (a)o disco ').
Porém, sendo um texto publicitário,esse ‘ jogo de sentidos ' denota a criatividade, a ousadia, características da sedutora linguagem da propaganda.
É bom observar também que há um erro de ordem gramatical na oração ‘ assista o disco '. O verbo assistir, no sentido de ver, presenciar, pede objeto indireto;portanto,segundo a NGB (Norma Gramatical Brasileira) seria ‘ assista ao disco '.
Língua Portuguesa I

As autoras Marina Ferreira e Tânia Pellegrini – em seu livro Redação: palavra e
arte . São Paulo: Atual, 1999 – fazem uma chamada na p. 221 que vale a pena reproduzir:
Quando você estiver lendo um texto qualquer; veja se é capaz de falar sobre seus pontos mais importantes, se consegue discorrer sobre ele, ligando uma ideia à outra, numa sequência lógica. Se não conseguir, é porque ainda não compreendeu esse texto. Nesse caso, tente identificar se sua dificuldade reside nos termos empregados, na organização das frases ou no próprio assunto debatido. Leia, então, de novo, uma vez, outra, até entender.
E ao escrever sua redação, antes de passá-la a limpo, observe se há continuidade no desenvolvimento das ideias, se uma ‘puxa' a outra, se você as percebe globalmente, como um todo, se não há contradições, enfim, se é um texto coerente. E lembre-se de que fazer rascunhos é muito importante para o exercício da coerência.
A coerência textual tem basicamente a ver com as condições para se estabelecer um sentido em um determinado contexto. Sendo assim, coerência textual é a relação harmônica que se dá entre as partes de um texto, em um contexto específico, sendo responsável pela percepção de uma unidade de sentido.
Para detectarmos se um texto (ou ainda uma gravura, uma pintura, uma escultura) é coerente ou incoerente, teremos que levar em conta o contexto em que foi feito. Queremos deixar claro que nada é incoerente por si só. Algumas passagens textuais (quer orais, quer escritas) apresentam incoerência por falta de habilidade do emissor no uso da língua, em seus diversos níveis. Muitas vezes, ao indicarmos alguma incoerência ou contradição na fala ou no texto escrito por alguém, ouvimos: “Não foi bem isso que eu quis dizer!”, “Eu escrevi isso? ”.
No livro A coerência textual (Contexto, 1996), Ingedore V. Koch e Luiz Carlos Travaglia tratam dos vários níveis em que esta se manifesta.

Língua Portuguesa I
1.   COERÊNCIA SEMÂNTICA: diz respeito à relação entre os significados dos elementos das frases, em sequência, em um texto ou entre os elementos de um texto como um todo.
A contradição de sentidos também compromete a coerência semântica, como podemos perceber no exemplo que se segue:
A frente da casa de vovó é voltada para o leste e tem uma enorme varanda.
Todas as tardes, ela fica na varanda em sua cadeira de balanço apreciando o pôr-do­sol.
Assim, a posição da frente da casa e o fato da avó ver o pôr-do-sol são
contraditórios,visto que o sol se põe a oeste e a localização da casa está no leste.
2.   COERÊNCIA SINTÁTICA: trata dos meios sintáticos para expressar a coerência semântica,ou seja, o uso de conectivos,pronomes, sintagmas nominais. A coerência sintática nada mais é do que um dos aspectos da coesão.
3.   COERÊNCIA ESTILÍSTICA: responde pelo fato de um usuário empregar em seu texto elementos linguísticos pertencentes ao mesmo registro linguístico. Seria, por exemplo, incoerente, o uso de gíria em textos acadêmicos.
4.   COERÊNCIA PRAGMÁTICA: tem a ver com o texto visto como uma sequência do ato de falar. Os atos da fala devem satisfazer às condições presentes em uma dada situação comunicativa. Isso quer dizer que, se um amigo faz um pedido a outro, este deverá responder algo que esteja dentro do “contexto”, ou seja, dentro de uma situação de comunicação.
Veja,como exemplo,um diálogo com incoerência pragmática, para que você possa entender melhor esse aspecto:
·       Você pode me emprestar seu livro do Guimarães Rosa?
·         Hoje eu comi um chocolate que é uma delícia.
Língua Portuguesa I

Existe, também, uma distinção importante que deve ser citada aqui. É a diferença entre coerência global – propriedade tomada em um texto como um todo e a coerência local , que pode ser percebida em sequências textuais menores. Muitas vezes, o fato de ocorrer incoerência de ordem local em um texto não significa que o mesmo foi prejudicado como um todo, pois podemos entender a sua mensagem, mesmo com trechos incoerentes.
Sendo assim, concluímos que a coerência é resultado da não-contradição entre os diversos segmentos textuais.
Reiteramos que enquanto a coesão existe no plano linguístico, isto é, nas
relações semânticas e gramaticais entre as partes de um texto, a coerência se estende para o plano das ideias, dos conceitos.
Na próxima unidade falaremos dos "nós linguísticos do texto" e de que maneira podemos controlá-los através de mecanismos coesivos.

Text Box:  Text Box: 108Text Box:  Text Box: 109
Língua Portuguesa I

Sendo a coesão uma das marcas fundamentais da textualidade, ela pode ocorrer através de alguns mecanismos que iremos abordar aqui.
Temos três tipos de coesão: a coesão referencial, a coesão recorrencial e a coesão sequencial .
COESÃO REFERENCIAL: acontece quando um elemento da sequência textual se remete a outro elemento do mesmo texto, substituindo-o.
Ex.: Encontrei o livro que tanto procurava. Ele estava guardado na estante.
Ainda dentro da coesão referencial temos:
1.1 A substituição de um elemento por outro: dá-se nas seguintes situações:
Nas formas pronominais:
a)   Pronomes pessoais de terceira pessoa.
Ex.: Os meninos saíram cedo da escola. Eles foram treinar para o torneio de futebol.
b) Pronomes indefinidos:
Ex.: O aluno e a mãe foram chamados à direção da escola, mas ninguém compareceu.
c)   Pronomes possessivos:
Ex.: Cássio levou um livro de suspense para a escola, porém quis ler o meu .
d)   Pronomes demonstrativos:
Ex.: Márcia experimentou uma saia azul escura, mas decidiu comprar aquela .
Língua Portuguesa I

e)    Pronomes Interrogativos:
Ex. Celso, Ricardo e Tânia depuseram na Delegacia, entretanto quem disse a verdade?
f)     Pronomes Relativos:
Ex. Todos os alunos que foram convocados compareceram à reunião.
·      Nas formas verbais: nesse caso, encontramos os verbos fazer  e ser referindo-se a todo o predicado da frase; não somente ao verbo.
Ex.: A professora de Português corrigiu todas as provas, mas a de Matemática não pode fazer o mesmo.
·      Nas formas adverbiais: substitui a circunstância indicada pelo advérbio presente.
Ex.: A garota saía cerca de três vezes por mês; seu irmão, nunca .
·      Nas formas numerais: são usadas para substituir tudo aquilo que pode ser mensurável.
Ex.: O pai premiou o filho com duas surpresas; a primeira delas era um computador novo.
Já li trinta páginas desse livro, mas amanhã pretendo ler o dobro . 1.2 Reiteração de elementos do texto:
·    As repetições do mesmo termo:
a)       De forma idêntica:
Ex.: Comprou um lindo carro, mas o carro não era novo.
b)       Com um novo determinante:
Ex.: Comprou um lindo carro, mas esse carro estava batido.

Text Box:  Língua Portuguesa I



c)        Text Box:  Text Box: d) Termos-símbolos:
Ex.: Durante o filme vimos os nazistas em ação; a cruz da suástica estava sempre presente.
Text Box: 110De forma abreviada:
Ex. A Fundação Nacional do Índio quer combater os maus garimpeiros; portanto a FUNAI controla as terras indígenas.
d)       De forma ampliada:
Ex.: O IBGE divulgou ontem alguns gráficos sobre a nossa economia; porém, o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística não falou dos índices de inflação.
e)       Com palavra cognata:
Ex.: Sabemos que passear é ótimo e muitos passeios são, ao mesmo tempo, fonte de cultura.
Os sinônimos ou quase-sinônimos:
a)    Uso de hipônimos:
Ex.: Houve um acidente envolvendo três veículos ;os carros tiveram que ser rebocados.
b)    Uso de hiperônimos:
Ex.: Recebi um buquê de rosas amarelas; as flores estavam lindas!
c)     Nomes genéricos:
Ex.: Comprei legumes, verduras, frutas e muitas outras coisas .

Text Box:  Text Box: 111Text Box:  Text Box: 112
Língua Portuguesa I

Apostos:
Ex.: Pelé, rei do futebol, foi também Ministro dos Esportes.
2. A COESÃO RECORRENCIAL: tem como característica a repetição de um
elemento anterior como alusão a um mesmo referente. Esse tipo de coesão se dá pela:
2.1 Recorrência de termos:
Ex.: Ricardo tremia, tremia, tremia...
2.2 Paralelismo: refere-se à recorrência da mesma estrutura sintática.
Ex.: Amor escondido, dinheiro no banco e sol na segunda-feira nos trazem insatisfação.
2.3 Paráfrase: consiste na recorrência de conteúdos semânticos marcada por
expressões chamadas de introdutórias como isto é; ou seja; quer dizer; digo; ou melhor; em outras palavras etc.
Ex.: Ele ainda não chegou até esse momento; isto é, não deve vir mais.
2.4 Recursos Fonológicos: faz uso de palavras que tenham sons idênticos, ou quase, para dar ideia de rima.
Ex.: Os problemas do Brasil são a corrupção, a inflação, a falta de feijão e a alienação.
2.5 A elipse: é a omissão de um termo que o contexto identifica com facilidade.
Ex.: Tudo o que queremos não é só o seu sucesso, mas a sua felicidade. ( Seria o
mesmo que dizer: ‘Tudo o que queremos não é só o seu sucesso, como (queremos também) a sua felicidade ).
Língua Portuguesa I

3. A COESÃO SEQUENCIAL: para esse tipo de coesão, fazemos uso de termos
pertencentes ao mesmo campo semântico por meio de novos acréscimos ao texto. Estes se dão através da:
3.1 Condicionalidade:
Ex.: Caso ele apareça , mande-o me procurar.
3.2 Causalidade:
Ex.: Todos se interessaram pelo livro, porque falava de um assunto dado em aula.
3.3 Implicação Lógica:
Ex.: Existe apenas um jeito de conseguir novamente a sua confiança: falando-lhe toda a verdade.
3.4 Explicação ou Justificativa:
Ex.: A prova estava fácil, pois todas as questões foram comentadas em sala­de-aula.
Chegamos ao final desta unidade. Mas não paramos por aqui! Na próxima, falaremos sobre os sentidos das palavras. Vamos lá?

Text Box:  Text Box: Língua Portuguesa IText Box: Leitura complementar
Aprofunde seus conhecimentos lendo:
VALENTE,André Crim. A linguagem nossa de cada dia. Petrópolis: Vozes, 1997.
GARCIA, Othon Moacir. Comunicação em prosa moderna. 18ed. Rio de Janeiro: FGV, 2001.
Text Box: É hora de se avaliar!Text Box: Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!Text Box:  Text Box: 113


 
Text Box:  Língua Portuguesa I
A Semântica: O Sentido das Palavras
Text Box:  Text Box: 122A Semântica é o estudo da significação das palavras. Aqui, é bom que esclareçamos que as palavras e os enunciados de uma língua natural transitam por dois eixos de significação:o eixo denotativo ou referencial e o eixo conotativo ou afetivo.
Dizemos que uma palavra ou enunciado tem valor denotativo quando é utilizada em seu sentido literal, isto é, aquele que aparece como a primeira (e segunda) acepção de um vocábulo no dicionário de língua. Portanto, esse sentido comum caracteriza os textos chamados de textos informativos , quer estejam na modalidade oral, quer estejam na modalidade escrita.
Text Box:  Em contrapartida, dizemos que um vocábulo tem valor conotativo quando o seu sentido não é tomado literalmente, e sim modificado ou até mesmo ampliado por quem o estiver usando. O objetivo para esse uso é obter um efeito particular em um contexto específico.
Vamos exemplificar o que acabamos de relatar com o vocábulo noite. Para
tanto, reproduziremos as acepções da palavra, guiando-nos pelo Dicionário Eletrônico de Antônio Houaiss – 2001.
noi. te (substantivo feminino)
1.   tempo que transcorre entre o ocaso e o nascer do sol, em determinado lugar da Terra, de outro planeta ou de um satélite [Nas regiões terrestres situadas no equador,a noite vai das 18h do dia anterior até as 6h do dia seguinte, o que, nas outras latitudes, só ocorre nos equinócios.
2.   horário em que está escuro, por falta da luz solar, e em que geralmente. as pessoas descansam ou dormem.

Text Box:  Língua Portuguesa I



3.   Text Box:  Text Box: Sabemos que existe uma relação entre o plano de expressão ou significante e o plano do conteúdo ou significado . Sendo assim, toda palavra que esteja em estado de dicionário, usada em seu sentido primitivo, informando aquilo que é objetivo, concreto, tem a função denotativa ;enquanto que a palavra carregada de emoções, resultado das associações que representam algo mais do que o estado de dicionário tem o valor conotativo .Text Box: 123Derivação: por extensão de sentido: ausência de claridade; escuridão, trevas.
4.   Derivação por metáfora: estado de dor, desesperança; tristeza, melancolia, abatimento.
5.   Derivação: sentido figurado. falta da visão; cegueira.
6.   Derivação: por metáfora: falta de estudos, de cultura, com predomínio do preconceito e das superstições; ignorância, obscurantismo.
Poderíamos,por conseguinte, formular frases, em que o vocábulo aparecesse com a primeira acepção e, portanto, com o valor denotativo :
As noites de inverno são mais longas que as de verão . ou
Passei a noite toda tossindo e quase não consegui dormir.
Já, nas frases que se seguem,o mesmo vocábulo aparece com acepções cujos
valores fogem dos literais e são ampliados em estruturas diferenciadas. Estamos diante do valor conotativo da palavra.
Sua vida tornou-se uma noite sem fim com a morte do filho. e
No Renascimento, o mundo emerge da noite medieval.
Por exemplo, na 1ª frase, o vocábulo destacado aparece com a acepção número 4: estado de dor, desesperança; tristeza, melancolia, abatimento.
Na segunda oração, noite aparece com o significado de ignorância, obscurantismo.

Língua Portuguesa I

Continuando a nossa oitava unidade, falaremos sobre Sentido e Contexto na aplicação da Língua Portuguesa.
A Semântica: O Sentido das Palavras: Sentido e Contexto
Agora, estudaremos as relações entre sentido e contexto no plano das
significações. É o que os linguistas denominam de aspectos semânticos da linguagem, pois por ‘semântica’ entende-se o estudo do significado.
Primeiramente, vamos entender que o sentido de palavras e expressões não é
fixo ou imutável. Muito pelo contrário, este sentido é definido pelo contexto em que usamos a linguagem.
Sendo assim,quando dizemos,por exemplo, “ Estamos afogados de trabalho ”, o verbo afogar não está no seu sentido literal,pois não podemos ficar submersos e rodeados por peixes. Portanto, a expressão “ estar afogado ” tem seu sentido figurado,baseado na semelhança que se percebe entre um afogamento real e um afogamento por excesso de trabalho.
Comece a perceber quantas vezes você emprega e ouve expressões ou frases inteira, em que o sentido figurado predomina. Isso se dá em função da extraordinária capacidade que a língua e seus elementos formadores têm de moldar-se a novas situações, construindo, eficazmente, novos sentidos.
É bom lembrar que, desde muito cedo, conseguimos estabelecer uma relação com a linguagem que nos faz transitar de modo natural e inconsciente do sentido literal para o sentido figurado dos enunciados. Isto porque participamos de diversas situações de interlocução, em que o sentido das palavras se define e torna-se preciso nos contextos em que se encontram.
Através dos tempos, as palavras e/ou expressões podem ter seu sentido
modificado ou expandido. Algumas delas podem se tornar, inclusive, habituais e passam a constituir um sentido reconhecido por toda uma comunidade falante.

Língua Portuguesa I

Assim, podemos traçar a diferença entre sentido literal e sentido figurado quando dizemos que:
·         SENTIDO LITERAL diz respeito àquilo que pode ser tomado como o sentido ‘ básico ' de uma palavra ou expressão e que pode ser depreendido sem a ajuda do contexto.
·         SENTIDO FIGURADO é aquele em que as palavras ou expressões recebem, em situações particulares de uso, outro significado, decorrente de uma extensão do seu sentido literal, partindo da motivação de alguma semelhança contextual.
Reiteramos que o sentido figurado pode ser tomado como uma ampliação do sentido literal ,porque mostra alguma semelhança real ou pressuposta em relação ao contexto literal. Na verdade, o sentido figurado é sempre resultado de uma interpretação.
Mas é bom assinalar que é preciso fazer sempre um exercício de interpretação, a partir do qual avaliamos e verificamos, em situações específicas, os possíveis significados das palavras e de suas combinações.
Portanto, para falar de significação, no seu sentido restrito, faz-se necessário falar daquilo que está fora da linguagem, mas que é representado por ela. Temos que exercitar a nossa capacidade de interpretar e escolher entre muitos significados aquele(s) que melhor se ajusta(m) ao contexto em que está(ão) inserido(s).
Vamos analisar a peça publicitária abaixo – Revista Atrevida , ano IV, nº 41.
Repare que, se colocarmos o período “ O sonho de toda mulher: bonito, gostoso e com recheio. ” desvinculado da foto e do contexto em si,poderemos compreender o quanto a frase solta compromete o sentido do texto.
Só teremos uma interpretação correta se ligarmos o texto ao contexto, ou seja, à figura de um picolé que,além de bonito e gostoso, possui recheio.

Text Box:  Língua Portuguesa I



Fora do contexto,poderíamos imaginar que se trata de um companheiro para a mulher. Mas, e o “ recheio ”? Haveria uma total falta de sentido, se não houvesse um contexto para nos apoiar.
Sendo assim, a importância do contexto para a construção do sentido dos enunciados é de vital relevância.
Entretanto,na construção desse processo,há a necessidade do leitor ter,como base,os pressupostos – ou seja, um conhecimento anterior ao momento da leitura (no caso do texto escrito) – que o capacite a compreender totalmente o que foi dito.
Resumindo, a mensagem só será efetivamente entendida se o emissor conseguir estabelecer a associação perfeita entre texto e contexto, isto é, usar de pressupostos já adquiridos.
A Semântica: O Sentido das Palavras
Em nosso anúncio publicitário, pressupõe-se que o leitor tenha um conhecimento prévio a fim de compreender e construir o sentido do texto.
Para lermos um texto, é necessário decodificar os sinais que o constituem. Sabemos, entretanto, que não podemos ler da mesma forma os inúmeros textos que nos chegam às mãos. Para isso,contamos com alguns procedimentos que nos ajudarão na leitura de um texto:
Primeiramente, retomemos aos pressupostos , que nada mais são do que um conhecimento de que o emissor espera que o seu leitor/ouvinte disponha e que o capacite a entender o que foi escrito/dito em um contexto pré-determinado. Por exemplo, na frase:
PEDRO NÃO DIRIGE MAIS.


 
Text Box:  Text Box: 127
Língua Portuguesa I

Em alguns casos, o pressuposto não é tão óbvio quanto no exemplo acima.
Vejamos em outro anúncio – Revista Isto É , 18-11-98 – em que a Caixa Econômica Federal dá como bônus para quem fizer o seguro do carro uma bicicleta.
O texto diz o seguinte: NOSSO SEGURO DE CARRO COBRE COLISÃO,
INCÊNDIO, ROUBO E GORDURINHAS LOCALIZADAS. FAÇA O SEGURO DO SEU 4 RODAS E LEVE + DUAS POR APENAS R$ 49,90.
Portanto, temos a possibilidade de ganhar uma bicicleta (‘ leve + duas rodas...')
para queimar as ‘ gordurinhas localizadas ';isto é, fazer ginástica, pois o seguro da Caixa cobre até ‘ esses inconvenientes ' por apenas ‘ R$49,90 '.
Ao lidarmos com uma informação que não foi citada, mas que podemos assimilar pelo que foi dito, temos como subtendê-la, deparando com o que está implícito – adjetivo que caracteriza aquilo que está envolvido no contexto e, embora não revelado, é sugerido pelo texto.

Língua Portuguesa I

Como você já deve ter notado, as atividades e os textos humorísticos são
espaços que privilegiam a construção de textos com conteúdos – pressupostos – implícitos.
Vamos para a unidade IX - Construção dos gêneros textuais? Até lá!

Text Box:  Text Box: 137Text Box:  Text Box: 138Text Box:  Text Box: 139Text Box:  Text Box: 140
Língua Portuguesa I

A Construção do Texto
Para podemos entender bem a tipologia textual, é necessário, antes de tudo, reconhecermos o seu modo de organização discursiva e as características peculiares a cada um deles. De imediato,podemos dizer que existem,basicamente, três tipos de textos: a descrição, a narração e a dissertação.
Primeiramente, leia o trecho abaixo:
“Descrever, narrar e dissertar são, na verdade, as três formas básicas com que, em nossa vida cotidiana, desvendamos as situações reais, as situações imaginárias, o entrelaçamento daquilo que chamamos dia-a-dia e daquilo que chamamos fantasia, na e pela linguagem. Trata-se das várias linguagens da linguagem, da diversidade de procedimentos através dos quais vamos encorpando e solidificando a nossa
capacidade de expressão. [.... } Do descrever ao narrar percorremos muitos caminhos
dentro de nós. Todos eles, de uma forma ou de outra, convergem para o dissertar.”
AMARAL, Emília & ANTÔNIO, Severino. Novíssimo curso vestibular – redação I. São Paulo: Nova Cultural, 1990. p. 2.
Resumindo, temos na descrição o registro de características de pessoas,
objetos,lugares; na narração, o relato de um fato contado por um narrador e, na dissertação, a expressão de opinião a respeito de um assunto.
É bom ressaltar que esses tipos de textos se misturam e é fácil encontrar elementos descritivos, narrativos e dissertativos num mesmo texto, com a predominância de um ou de outro. A narração de um passeio,por exemplo,poderá ser predominantemente narrativa, mas também pode apresentar descrições de lugares e pessoas e, por fim, trazer um comentário sobre o descuido em que a prefeitura deixou determinado lugar. Nesse caso, teremos, sem dúvida, características dissertativas.
A seguir, colocaremos um quadro-resumo das principais características de cada formatação textual:
Língua Portuguesa I

NARRAÇÃO:
·         relato de fatos;
·         presença de narrador, personagens, enredo, cenário, tempo;
·         apresentação de um conflito;
·         uso de verbos de ação;
·         geralmente, é mesclada de descrições;
·         o diálogo direto e o indireto são frequentes.
DESCRIÇÃO:
·         retrato de pessoas, ambientes, objetos;
·         predomínio de atributos; uso de verbos de ligação;
·         frequente emprego de metáforas, comparações e outras figuras de linguagem;
·                   tem como resultado a imagem física ou psicológica. DISSERTAÇÃO:
·         defesa de um argumento: a) apresentação de uma tese que será defendida; b) desenvolvimento ou argumentação; c) fechamento.
·         predomínio da linguagem objetiva;
·         prevalece a denotação.
CAMPEDELLI, Samira Yousseff & SOUZA, Jésus Barbosa. Produção de textos & usos da linguagem – curso de redação. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 89.
Língua Portuguesa I

A Narração e seus Elementos
Começaremos o nosso estudo de tipologia textual pela NARRAÇÃO – relato centrado em um fato ou acontecimento. É um tipo de texto marcado por uma progressão temporal, em que atuam personagens e um narrador, cujo papel é relatar a ação.
As ações narradas direcionam-se para um conflito, desenvolvidas sempre numa linha de tempo e num determinado espaço.
Vamos agora discorrer acerca dos elementos da narrativa:
1.     ENREDO = caracteriza-se pelo desenrolar dos acontecimentos na trama da narrativa. É o fato em si.
2.     NARRADOR = é aquele que narra,relata os fatos. Quando o narrador participa dos acontecimentos narrados, temos a ação em 1ª pessoa, portanto, ele é um narrador-personagem. Já, quando o narrador não participa,mas fica observando tudo o que ocorre, temos a ação em 3ª pessoa e o denominamos onisciente ou narrador-observador.
3.     PERSONAGENS = são aqueles que vivenciam os acontecimentos. Ao(s) personagem(ns) principal(is), chamamos protagonista (s) e àquele(s) que se opõe(m) ao primeiro, antagonista (s).
4.     AMBIENTE = caracteriza o espaço, o cenário pelo qual os personagens transitam e onde se desenrolam os acontecimentos.
5.     TEMPO = diz respeito à época, ao momento em que acontecem os fatos. Podemos classificar o tempo em duas modalidades: o tempo cronológico – aquele em que os fatos são narrados no momento em que estão acontecendo ou em que presente e passado se entremeiam, em forma de ‘ flash-back ' – e o tempo psicológico, em que o tempo não mantém nenhuma relação com o tempo propriamente dito.
Língua Portuguesa I

As propostas de redação, normalmente,deixam claro o tipo de texto desejado.
É basicamente impossível fazer uma boa redação sem entender o que está sendo proposto.
Assim, entraremos no nosso próximo conteúdo no quesito DESCRIÇÃO.
A Descrição
Conforme falamos anteriormente, estamos entrando no estudo dos tipos de
textos. Aqui, falaremos da DESCRIÇÃO – uma das tipologias muito conhecidas de quem fotografa, através da palavra, algo ou alguém.
Tenha um bom aproveitamento do conteúdo!
É através dos sentidos que construímos as imagens das pessoas, coisas ou
lugares. Quando utilizamos a linguagem para expressar essa imagem que construímos, elaboramos um texto descritivo.
Consultando o Dicionário Eletrônico Houaiss – 2001, encontramos o vocábulo ‘ descrição ' assim definido:
A descrição tem como característica básica o fato de ser o que os manuais de redação chamam de ‘retrato verbal’ de objetos, cenas, pessoas ou ambientes. O texto procura trabalhar com as imagens, permitindo quase que uma visualização daquilo que está sendo descrito
Nos textos descritivos, predominam os adjetivos e as locuções adjetivas. Normalmente, os períodos são curtos, prevalecendo as comparações.
Existem alguns tipos de descrição que devemos ressaltar. Temos a descrição  objetiva, que procura transmitir uma imagem concreta e precisa, bem próxima da realidade,com os detalhes que caracterizam o cenário bem nítidos. Já na descrição  subjetiva, o narrador descreve a personagem, partindo de um ponto de vista pessoal.

Língua Portuguesa I

REVISANDO:
A descrição pode ir além de um simples retrato. Muitas vezes, transmite ao
leitor uma visão pessoal ou a interpretação do autor acerca do que está descrito.
Quando o narrador não emite juízos de valor,nem estabelece comparações de
caráter subjetivo, transmitindo uma imagem concreta e precisa, bem próxima da realidade, falamos que estamos diante de uma descrição objetiva .
Já a descrição subjetiva marca uma visão muito pessoal do narrador. Na verdade, são impressões que transmitem um retrato bem íntimo daquilo que os personagens são. Há, na descrição subjetiva, um juízo de valor a respeito dos hábitos, costumes e até do perfil psicológico dos personagens.
Há, também, um tipo especial de descrição que é a descrição técnica, uma espécie de descrição objetiva que transmite a imagem do objeto com vocabulário preciso, ligado ao um ramo da ciência ou tecnologia. Como exemplo, podemos citar a descrição de determinados órgãos do corpo humano, peças de automóvel, manuais de instrução e artigos científicos.
Raramente você verá um texto de ficção exclusivamente descritivo. É comum encontrar trechos descritivos inseridos em textos narrativos e dissertativos.

Text Box:  Text Box: 142
Língua Portuguesa I

Finalmente,é bom ressaltar que,numa descrição, utilizamos os cinco sentidos (visão,audição, olfato,gosto,tato e audição). Isso porque a realidade que nos cerca pode ser apresentada através dos sentidos e depois interpretada por imagens linguísticas (ou seja, pelas palavras)
Sendo assim, essas descrições fazem uso de adjetivos com valor sensorial.
Em seguida iniciaremos o estudo dos tipos de textos - a DISSERTAÇÃO – a
última das tipologias textuais, que trata dos argumentos usados em textos opinativos ou argumentativos.
A Dissertação – Persuasão e Argumentação
Aqui, estudaremos o mecanismo e as características de um texto dissertativo.
Veremos o quanto usamos a DISSERTAÇÃO no nosso dia-a-dia,mesmo sem darmos conta disso. Um excelente estudo para você!
Começaremos respondendo à pergunta: O que é dissertar?
Dissertar é expor uma ideia,argumentando,comparando e defendendo um ponto de vista.
As características de um texto dissertativo podem ser resumidas em:
·         é um texto temático – toda a sua evolução parte de um raciocínio;
·         é um texto que analisa e interpreta;
·         é um texto que aponta para relações lógicas de ideias, fazendo comparações, mostrando correspondências, analisando consequências;
·         é um texto que usa, preferencialmente, os verbos no presente.

Text Box:  Língua Portuguesa I



Text Box:  Text Box: Na primeira, o autor expõe os argumentos de forma impessoal e objetiva, procurando não se incluir na explanação, conferindo ao texto um caráter imparcial. Embora saibamos que o autor está nos transmitindo a sua visão pessoal a respeito de um determinado tema, ele não aparece para o leitor de maneira a que possamos defini-lo.Text Box: 143A dissertação apresenta a seguinte estrutura:
·         INTRODUÇÃO: Consiste na apresentação da ideia ou do ponto de vista que será defendido. É importante que uma introdução:
·         defina a questão, situando o problema;
·         indica o caminho que será seguido.
·         DESENVOLVIMENTO: consiste em se desenvolver o ponto de vista, tentando convencer o leitor. Devemos usar,para isso,uma argumentação sólida,exemplificar, citar opiniões de pessoas ou órgãos especializados, fornecer dados que promovam a fundamentação do(s) argumento(s) empregado(s) por você.
·         CONCLUSÃO: é o desfecho do texto até aqui escrito. Ela deve ser coerente com o desenvolvimento, com o(s) argumento(s) apresentado(s).
No que diz respeito à linguagem, deve prevalecer o sentido denotativo das palavras e as orações deverão apresentar-se na ordem direta. É de vital importância,em um texto dissertativo, que as ideias estejam coerentes umas com as outras e os elementos coesivos – estudados na Unidade VII – explicitem e liguem as relações entre as ideias expostas.
É fundamental, para que possamos elaborar um texto dissertativo­argumentativo,que preparemos um plano ou um roteiro, para que não fiquemos perdidos,dando voltas em torno do tema. Num texto dissertativo, devemos ser objetivos, impessoais e imparciais. Para tanto, devemos optar pela 3ª pessoa.
Podemos caracterizar a dissertação,levando-se em conta a pessoa do discurso em que foi elaborada em dissertação objetiva e dissertação subjetiva.
A Construção do Texto

Text Box:  Text Box: 144
Língua Portuguesa I

Já na dissertação subjetiva, o autor perde o caráter impessoal e assume, de
forma explícita, um caráter subjetivo, pessoal. O verbo aparece em 1ª pessoa do singular ou do plural, sendo esse último mais comumente encontrado.
Na dissertação, temos que definir um importante aspecto que é a argumentação. É muito comum ouvirmos falar de um texto dissertativo­argumentativo – aquele em que o enunciador busca convencer o leitor sobre um determinado ponto de vista. Ao fazê-lo, ele se utiliza de elementos básicos para a construção desse tipo de texto:a tese e os argumentos. Na primeira, o enunciador expõe um ponto de vista sobre determinado assunto polêmico e procura convencer o leitor de que essa opinião é a mais adequada. E, para defender essa opinião, o autor deverá se valer dos argumentos persuasivos, que procurarão confirmar a tese apresentada. A mais eficiente forma de se argumentar é aquela que busca demonstrar a tese se baseando em fatos e não em hipóteses – proposições que se admitem independentemente do fato de serem verdadeiras ou falsa.
Ao redigirmos uma dissertação, é bom atentarmos para alguns tópicos de vital importância. De modo geral, os assuntos são muito amplos e abrangentes. Para isso, é preciso delimitarmos previamente o tema e, depois, faz-se necessária a elaboração de um encadeamento lógico das ideias, para que não nos atrapalhemos. Sugerimos fazer um esquema por parágrafos e ir colocando, em forma de tópicos, as ideias que surgirem. Essas ideias, normalmente, vêm sem qualquer ordem. É preciso, portanto, selecionar as melhores e colocá-las em ordem de importância.
Chegamos ao final do conteúdo da nossa disciplina. Esperamos que você
tenha feito um ótimo proveito das informações aqui dispostas e que faça bom uso das mesmas.
Muito sucesso!

Nenhum comentário:

Postar um comentário